Entrevista: Mateus Ramos, guitarrista do Cirrhosis, fala sobre novo álbum da banda.
Entrevistador: Roberto Carvalho.
1- Salve Mateus, primeiramente agrademos por aceitar o convite da entrevista, poderia começar falando como foi seus primeiros contatos com o Juarez?
Salve Roberto, salve galera que acompanha o Cerrado Rock, fãs do Cirrhosis e nação headbanguer. Meus primeiros contatos com o Juarez, nosso grande Tibanha, foi nos eventos Crossover And General Metal, na época eu era guitarrista e vocalista da banda de thrash metal Neuro Attack e o Tibanha estava com o Scourge. Eu ainda não tinha muito contato com ele, era aquela coisa de cumprimentar após o show, até que a gente dividiu palco duas vezes em duas edições do festival Udi Rock em 2015 e 2016. Após o show de 2016, foi a primeira vez que o Juarez me convidou para tocar junto com ele, pelo Scourge. Na época eu estava focado na composição do disco Chaos pelo Neuro Attack, que foi lançado em 2018, e acabei não aceitando o convite, mas foi a partir desse momento que passei a ter mais contato com ele.
2- Conte-nos como foi a experiência de quando a banda estava na ativa, ensaios e shows, de que forma ela agregou na sua progressão musical?
Depois que a banda Neuro Attackse separou, entrei para o death metal em 2018 com a banda Gore Autopsy na qual participo até hoje. Nesta fiz alguns shows e gravei guitarras no single Eternal Rotten Love (2018) e no single The Carnivours Dead (2020). Nesse meio, em abril de 2019 aconteceu o segundo convite do Juarez para que eu tocasse junto com ele, desta vez marcando a volta da lendária banda Cirrhosis. Nesta ocasião o Juarez me disse que falou com o Rodrigo “Branca de Neve” guitarrista da primeira formação no disco Alcohol Rules (1990) e com o Marcos, guitarrista no disco Alcoholic Death Noise (2002), convidando-os para a volta do Cirrhosis, os mesmos disseram estar com outros focos e disseram que o Juarez poderia prosseguir com a volta da banda sem problemas. Foi então que aceitei participar da volta da banda, que contava com Roberto Marra na bateria, Juarez no baixo/vocal e eu, Mateus Ramos na guitarra. Fizemos alguns ensaios e convidamos o guitarrista Mark Sanchez para fazer segunda guitarra. Com esta formação fizemos o show da volta da banda no evento Crossover and General Metal. Após esse show Roberto saiu da banda por questões pessoais e então convidamos Murilo Oliveira para a bateria, e começamos a trabalhar na composição de novas músicas.
3- Chegaram a gravar um ‘single’ com o Juarez, como foi o processo de composição, fale também sobre os bastidores da gravação desse ‘single’.
O single Alcoholic Evil Trinity (2020) foi a marca definitiva da volta da banda, que não queria viver apenas tocando as músicas antigas. Foram várias reuniões na casa do Juarez, sempre com algumas bebidas, comidas que o Juarez adorava preparar e muita ideia boa, sempre falando de contatos de shows e muita experiencia trocada sobre o metal old school de Minas Gerais. Foi em uma dessas conversas que ele disse para a gente que conseguiu um show em São Carlos (SP) no Pull The Plug Festival. Nós da banda queríamos já ir para esse show com uma música nova e nisso começamos a focar. Um dos ensaios antes desse show contou com a presença de um grande amigo do Tibanha de longa data, Wagner Lamounier Antichrist, lenda viva do Sarcófago. Este deu o maior apoio para a banda, e deu algumas dicas na música Midnight Queen do Sarcófago, que ensaiávamos para tocar em São Carlos. Com a música já pronta fomos para São Paulo, para o que viria a ser o penúltimo show da banda. O show foi excelente, muita gente de fora foi prestigiar a banda, vários membros de bandas deram apoio e elogiaram a nova música Alcoholic Evil Trinity, que foi muito bem aceita. Após o show fomos para o estúdio do William, ex-baterista da banda Killerklowns, para gravar a nova música e lançamos no youtube e spotify, pela Cogumelo Records.
4- Conseguiram algo que era tão sonhado pelo Juarez, verba para a produção de um CD com a lei de incentivo à cultura, como foi a escolha do repertório para essa gravação do Full álbum?
A ideia de escrever o projeto para o PMIC (Programa Municipal de Incentivo à Cultura) veio do Juarez. Estávamos em julho de 2020 quando ele me disse que as inscrições estavam abertas e me incentivou a escrever o projeto para o lançamento do novo disco da banda. Nos reuníamos quase toda semana para compor músicas, e já estávamos treinando quatro novas músicas além da música do single, na época em que decidimos escrever o projeto para o incentivo da Prefeitura de Uberlândia. O Juarez já tinha todas as letras escritas na casa dele, foi então que coloquei o projeto no papel e decidimos que um novo disco do Cirrhosis seria lançado. Decidimos fazer um disco com 8 músicas, 5 dessas já estavam prontas, a sexta música já tínhamos os riffs definidos, faltava colocar tudo em ordem, processo esse que fazíamos juntos na casa do Juarez. Com estas 6 músicas novas decidimos lançar a música Die All The Falses, que já havia sido tocada em alguns shows do Tibanha, mas nunca foi gravada com nenhuma banda. Por último foi escolhido um cover do Scourge, da época em que a banda era formada por Juarez (baixo/vocal), Mark Sanchez (guitarra), Guilherme Miranda (guitarra) e Jhoka Ribeiro (bateria). A música escolhida foi The Cry Of The Lost Souls. No fim de julho de 2020 o projeto foi enviado para aprovação da Prefeitura e o resultado só sairia em janeiro de 2021. Ao longo desse tempo continuamos aperfeiçoando as músicas para a gravação. Foi nesse meio, no dia 11 de outubro de 2020, que nos chegou a infeliz noticia do falecimento de Juarez Távora. Foi uma noticia que abalou a todos nós. Após a morte dele nós da banda não nos reunimos até janeiro do ano seguinte. Foi então que saiu a notícia que o projeto foi aprovado. Este momento foi bastante indeciso, sobre gravar ou não as últimas músicas que o Juarez fez em sua vida. Eu e o Mark nos reunimos e decidimos conversar com alguns músicos amigos do nosso falecido vocalista e pegar algumas opiniões. Sabíamos que apareceria um ou outro desinformado dizendo que estaríamos apenas usando o nome da banda, mas a verdade é que decidimos lançar as últimas músicas do Juarez, em homenagem e em respeito a tudo o que ele gostava, com certeza era um sonho dele que esse disco fosse lançado. Várias pessoas nos apoiaram nesse disco e disseram ser uma excelente forma de homenagem. Já com o projeto aprovado, decidimos continuar.
5- Esse processo de gravação também trouxe algo novo, como foi a produção de um disco com bons recursos? Já que muitos do underground produz gravações com baixo orçamento, com recursos limitados.
A gravação com a Lei de Incentivo à Cultura em geral é como qualquer outra gravação, o que realmente importa no final é que o processo de composição da música seja bem feito, pois uma música ruim com qualidade na gravação continua sendo uma música ruim. Então feita a parte da composição, o restante do processo funciona da mesma forma com ou sem bons recursos. A diferença está em poder escolher a melhor qualidade para as músicas. Peguei opinião com pessoas que já foram contempladas com a lei de incentivo e decidimos gravar tudo no Porão Estúdio, as 8 músicas e os 2 videoclipes.
6- Houve muitos convidados para participar desse trabalho, como foi a escolha do elenco?
Nós da banda decidimos que convidar amigos do Juarez para fazer os vocais seria uma boa forma de homenageá-lo. Então fizemos um levantamento e chegamos a uma lista de quase 40 pessoas rsrs. Gostaríamos que todos tivessem participado, com toda a certeza, mas para apenas 8 músicas tivemos que reduzir esse número para algo mais próximo da realidade. Conseguimos chegar a 10 vocalistas: Manuh Guttural (Khormoundeggom), Michel Ataíde (No Defeat), Rodrigo Malevolent (Pentacrostic/Black Serenade), Murillo Leite (Genocidio), Guilherme Miranda (Entombed A.D/Krow), Cleiton Freitas (Gore Autopsy), Wallanfy Dutra (Catastrofe), Wendel Santos (FMI), Raphael Franco (Uganga) e Manu Joker (Uganga). Contamos também com Fred Meira fazendo a bateria em todas as músicas, com excessão da última, que foi gravada por Jhoka Ribeiro (Alekto/Krow). Por último tivemos participação do Preto Souto (Khormoundeggom/ex-Sourge) no solo de Die All The Falses e Guilherme Miranda nas guitarras de The Cry Of The Lost Souls.
7- Após o término da gravação com o material pronto, saiu do jeito que tinha planejado? Como está a expectativa de lançamento?
A gravação desse disco foi um processo muito importante para mim, musicalmente falando. O contato direto tanto com Felipe Maciel quanto com Guilherme Miranda durante a produção e mixagem do disco foi algo que me agregou bastante, muita troca de conhecimento e aprendizagem sobre como funciona os bastidores de um grande disco. A expectativa é esta, um grande disco, uma grande homenagem, deu tudo muito certo, as guitarras pesadas, a bateria violenta, os vocais monstruosos, o baixo completando muito bem o som, tudo da forma que nós da banda imaginávamos, ou até melhor. Agora é colocar à disposição pra galera ouvir e dizer o que acha, mas pra mim o que importa é que nós da banda fiquemos satisfeitos com o resultado da nossa música, e isso aconteceu, ouso até dizer que Juarez também ficaria.
8- Há alguma pretensão de realizar alguma apresentação ao vivo contemplando essas músicas gravadas? Com músicos convidados, ou a intensão é parar por aqui mesmo?
Sobre shows chegamos até a considerar essa opção. Claro que o Tibanha era o único membro original da banda, e tem muita gente que possa pensar que seria errado fazer isso sem ele no comando, mas o disco Drinks From Hell (2008) foi gravado e tocado sem nenhum dos membros originais da banda, não é querendo comparar, mas nós também tocamos e compomos as músicas no Cirrhosis junto com o Juarez. Mesmo sendo um assunto um pouco delicado a intensão é de não continuar com a banda, como o nome do disco já diz, The Last Act é o ultimo ato da banda. Podemos sim fazer um show ou no máximo dois para tocar as músicas desse CD com os convidados que toparem, muito deles até já disseram que seria uma honra fazer parte disso. Então não tem nada confirmado, mas posso dizer que existe a possibilidade sim de uma apresentação ao vivo.
9- Em suma, comente sobre o material, será disponibilizado para venda? Quando será lançado nas plataformas digitais?
The Last Act será lançado no dia 11/03/2022 e estará disponivel gratuitamente nas plataformas digitais de música como o Spotify, Deezer e Youtube. Os dois clipes estarão disponíveis a partir da mesma data no Youtube. Além das plataformas digitais, teremos CDs impressos com o adicional de um pôster junto com o CD. Para adquirir este material basta entrar em contato diretamente com os membros da banda.
10- Para fechar, faça as suas considerações finais, o espaço está aberto.
Gostaria de agradecer pela entrevista, é uma oportunidade de a galera conhecer um pouco mais sobre a história desse disco. Agradecer também a todo mundo que nos apoiou nesse projeto, a todo mundo que fez participação pelo empenho e pelo profissionalismo, à galera que ajudou na produção do disco e dos videoclipes e também a todo mundo que leu a entrevista até o final, espero que escutem e deem sua opinião sobre essa grande homenagem musical que será esse disco, se curtirem espalha pra galera, se não curtir espalha também pra ver o que acham rsrs. Obrigado nação headbanguer, muita saúde e metal pra todo mundo.
Parabéns Roberto pela entrevista e Mateus pelas palavras e esclarecimentos, eu como participante dessa homenagem fico a disposição para um futuro show para fechar o ciclo do CIRRHOSIS com chave de ouro para todos os atuais e ex integrantes, CIRRHOSIS é lenda eterna para o metal Mundial.